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Capítulo 5: 1941 a 1950 – O centralismo da capital e o jejum (Parte V)

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FCPorto – Dragões de Azul Forte
Retalhos da história, conquistas e vitórias memoráveis, figuras e glórias do
F. C. do Porto


Capítulo 5: 1941 a 1950 – O centralismo da capital e o jejum (Parte V)

Época 1945-1946

Entrada fulgurante e trambolhão…
A tradição cumpriu-se: o FC Porto entrou no Campeonato Nacional de 1945-46 fulgurantemente. Duas vitórias de seguida e, à terceira jornada, um resultado impensável: 11-0 ao Atlético, que no Campeonato de Lisboa lutara de igual para igual com Sporting, Benfica e Belenenses.

Fotografia da equipa do FC Porto de 1945-46 (ou 1946-47?) em que não foi possível identificar alguns jogadores. Da esquerda para a direita:
Em cima – Barrigana (?), Alfredo Pais, Pocas, Romão, (n/identificado) e Guilhar. Em baixo – (n/identificado), (n/identificado), Correia Dias, (n/identificado) e Octaviano.

• Correia Dias apontou quatro golos, Araújo três, Lourenço outros três e Antonino um. Era, de novo, a euforia entre os adeptos portistas, a crença de que a amargura dos anos transactos iria dissipar-se, que a felicidade se divisava aí. O desfecho do jogo com o Atlético desconcertou e foi com uma recepção para os apequenar e apupar que os alcantarenses chegaram a Lisboa.
Uma semana depois, o FC Porto perdeu a invencibilidade, baqueando no Campo Grande ante o Benfica: 0-4. Uma vitória dos çisboetas que, de certo modo, serviu para amainar os ventos de tempestade que por essa altura, fustigavam o Campo Grande. Mas foi, sobretudo, a revolta de um homem contra desfeitas que ainda lhe doíam na alma: Teixeira, o “Gasógeneo”, foi a grande figura do Benfica. Vivera um defeso turbulento. Vicente de Melo, ex-tesoureiro do Benfica, tentara transferi-lo para o Sporting de Braga, por não admitir que o seu apoderado (jogador que havia trazido dos Açores) tivesse sido esbofeteado pelo treinador János Biri. A direcção do Benfica apenas repreendeu o técnico, Teixeira sentiu-se injustiçado e barafustou. Foi punido com castigo exemplar: os directores benfiquistas deixaram-no sem dinheiro para a comida e quarto… Agora, talvez também o acorrentassem nos obscuros “túneis” da Luz…
Já em 1946 o FC Porto permitiu a primeira vitória da Académica no Campeonato. Como se não bastasse, a Olhanense foi ganhar ao Porto por 3-4 e Vítor Guilhar, o bastião da defesa portista, fracturou um pé.

• Depois de nas primeiras jornadas ter dado indícios de poder lutar pelo título, o FC Porto terminava o Campeonato num mísero 6.º lugar, com 20 pontos, menos 18 (em 22 jornadas!) que o Belenenses, o campeão.
Em hora de balanço, quase em jeito de catarse, não admirou o lamento de Araújo: “No princípio do Campeonato aguardávamos, confiantes, bons resultados para o trabalho do meu grupo. Mas vieram as baixas: Catolino, Barrigana, eu próprio (com um pulso partido) Vítor Guilhar (com o pé fracturado). Gomes da Costa regressou tarde e sem preparação... Claro que tudo isso perturbou. Foi uma lástima! Ainda se pudéssemos contar com Pinga... Era um mestre. Quando eu vinha de Paredes assistir aos jogos do FC Porto (e nem sequer pensava vir jogar ao seu lado), estonteava-me com as suas fintas e os seus passes aos extremos. E os seus remates?!”

Obs.:
• Gomes da Costa, atacante na equipa do FC Porto, era estudante universitário. Porque primeiro estavam os estudos, nesta época não jogou com a regularidade pretendida. Era muito desejado mas não podia, de facto, dar o seu melhor contributo à equipa;
• Pinga teve de se sujeitar a uma complicadíssima operação a um menisco, em Outubro de 1945. Depois de penosos tratamentos, voltou a jogar em Maio/1946. Depressa se concluiu que a sua carreira de futebolista tinha de acabar ali. Despediu-se no início de Julho.
• José Szabo Júnior, jovem guarda-redes (19 anos), filho do treinador, alinhou em quatro jogos do FC Porto no Campeonato. Nos outros encontros a baliza portista foi defendida por Barrigana. Szabo Júnior sairia do FC Porto no final da época 1945-46.

O costume: protesto em vão!
A Taça de Portugal voltava a ser a hipótese de os portistas se erguerem sobre si próprios e brilharem. Nas meias-finais, FC Porto - Atlético. Os de Alcântara já haviam eliminado o Estoril Praia e o Benfica. Na memória, ainda, os 11-0 para o Campeonato. Só que, por vezes, a vingança serve-se fria...
Os alcantarenses acabaram por eliminar os portistas em jogo disputado em Lisboa, ganhando por 2-1.
Cesário Bonito alegando que o guarda-redes Correia esteve “lesionado” durante oito minutos e o árbitro, Augusto Pacheco, descontou apenas quatro, apresentou protesto à Federação, mas… em vão. Em Lisboa, o julgamento do costume: o FC Porto não tinha razão...

José Travassos a um passo do FC Porto…
José Travassos era um jovem e promissor futebolista que despontava na equipa da CUF do Barreiro onde praticava também atletismo. “Leão” de coração (havia mesmo nascido no local onde se situava o Estádio de Alvalade) lamentava-se de do Sporting só ter recebido convite definitivo para o atletismo, depois de ter corrido os 100 metros em 11 segundos, a apenas quatro décimos do recorde ibérico.
Aquando da viagem do FC Porto a Lisboa para defrontar o Atlético para as meias-finais da Taça de Portugal, os dirigentes portistas abordaram o jovem talento na ânsia de o contratarem. Travassos que trabalhava, então, na CUF como aprendiz de serralheiro, foi abordado à saída das oficinas pelos emissários portistas. A conversa pouco demorou. Pediu 20 contos de luvas e casa montada no Porto. O ordenado mensal poderia rondar os 500 escudos. Que sim, que sim, lhe disseram satisfeitos os enviados do FC Porto. A pérola parecia conquistada...
Entretanto rumores do acordo chegaram aos dirigentes do Sporting, que para impedirem o cerco portista a Travassos o levaram para Torres Vedras, onde permaneceu, quase em clausura, durante 15 dias. Libertaram-no apenas para participar numa prova de atletismo e, para espanto e desilusão deles, desapareceu, quase misteriosamente.
Um director portista descobriu-o no estádio e levou-o de imediato para o Porto hospedando-o num hotel com direito a tratamento “VIP”. E depois, acharam ainda mais prudente escondê-lo em Escaramão, aldeia minhota que nem no mapa aparece. Duas semanas lá esteve, José Travassos, em dourado embargo.
Mas, de súbito, sentiu o “coração de leão” e arranjou forma de dirigentes do Sporting o tirassem dali. Um telegrama recebeu, em que lhe era solicitado “se deslocasse urgentemente a Lisboa para se sujeitar a inspecção militar”. No caminho, o hospedeiro portista de Escaramão levou-o à Constituição onde directores do FC Porto lhe colocaram à frente o contrato para assinatura imediata. Travassos disse que não poderia assinar, que só com autorização dos pais...
Partiu então para Lisboa, mas com acompanhamento de dirigente portista e com menção de só o largar na sua própria casa. Já em casa não perdeu tempo e desenvencilhou-se do vigilante.
No dia seguinte, na presença de directores sportinguistas, Travassos assinou a ficha pelo Sporting, a troco de 20 contos e promessa de um ordenado mensal de 700 escudos. A CUF, apesar de autorizar a transferência, despediu-o dos seus quadros. O Sporting arranjou-lhe emprego.
José Travassos fez parte dos famosos “Cinco Violinos” do Sporting e jogou até 1959.

A despedida de Pinga, o último “diabo do meio-dia”…
• Era opinião unânime e justa: “Pinga tornara o futebol um manancial riquíssimo de atitudes cheias de beleza e com a sua classe acendera labaredas de entusiasmo nos campos de Portugal”. Só que nem os diamantes são eternos.
• Em Outubro de 1945, Pinga teve de sujeitar-se a uma (então) complicadíssima operação a um menisco. Foi um dos primeiros ou mesmo o primeiro futebolista português a fazê-la. Depois de penosos tratamentos, voltou a jogar em Maio/1946. Depressa se concluiu que a sua carreira de futebolista tinha de acabar ali.
• Foi pois, com um nó na garganta, que os adeptos portistas assistiram ao adeus, aos campos de futebol, do seu maior ídolo. O cartaz que promovia a despedida do jogador continha uma frase reveladora da paixão e devoção que Pinga nutria pelo clube e pela cidade: "Fraquejaram os músculos, mas o meu coração continua a lutar pelo Clube, pelo Desporto e pelo Porto."
• 7 Jul.1946, a festa de despedida de Pinga, o último "diabo do meio-dia". 550 atletas de várias modalidades desfilaram e nas bancadas do Estádio do Lima estavam mais de 20.000 pessoas. Tudo em honra de um dos jogadores mais memoráveis da história do clube. O Estádio foi um mar de lágrimas com aplausos para um jogo de estrelas, entre o FC Porto e uma selecção dos melhores de Portugal: Azevedo; Cardoso e Feliciano; Amaro, Francisco Ferreira e Serafim; Espírito Santo, Alberto Gomes, Peyroteo, José Pedro e João Cruz.
Sporting, Benfica, Belenenses e Académica estavam ali na homenagem a Pinga, todos eles também envolvidos numa emoção colectiva.

• Logo após a despedida, Pinga tornou-se treinador. Orientou a Sanjoanense, Tirsense e Gouveia. No Tirsense viveu um momento de glória (como nos seus tempos de jogador) ao eliminar da Taça de Portugal o Sporting dos “Cinco violinos” (época 1948-49). Faleceu em 12 de Julho de 1963.

Gomes da Costa (Dr. Francisco Gomes da Costa, n. Vila Pouca de Aguiar, 25 Fev.1919 – m. 1987), foi um avançado voluntarioso e estratega inteligente, ágil e de boa técnica, que jogou no FC Porto com grande dedicação durante 10 épocas (1936-37 a 1945-46), com uma de interregno (1938-39).
• Gomes da Costa era estudante universitário (Faculdade de Medicina do Porto), e porque primeiro estavam os estudos, nem sempre podia dar o contributo ideal à equipa. Era muito solicitado por equipa técnica e dirigentes mas, de facto, era-lhe impossível jogar com a regularidade pretendida. Empenhado na licenciatura, na época 1938-39 não participou em qualquer jogo do Campeonato Nacional (por isso não foi Campeão) e na de 1945-46 integrou-se muito depois do início da campanha.
• O simpático “Quicas” (como lhe chamavam colegas e amigos), portista de coração, disse “não” a “contrato milionário” que o Benfica lhe oferecera. A jogar futebol, “só o faria no FC Porto”. Também recusou convite para alinhar pela Académica de Coimbra. No Porto jogou ao lado de grandes futebolistas como Soares dos Reis, Vianinha, Pocas, Carlos Pereira, Francisco Ferreira, Lopes Carneiro, Reboredo, Carlos Nunes, Costuras, Correia Dias, Araújo e Barrigana.
• Fez parte da equipa do FC Porto que se sagrou Bicampeã Nacional na época 1939-40; e do “sexteto de cordas”, assim chamados os seis belíssimos executantes que pontificavam nessa fantástica equipa: Bela Andrasik, Petrak, ele próprio, António Santos, Kordnya e Pinga.
• Foi internacional. Vestiu a camisola da Selecção Nacional em jogo contra a Espanha, na Corunha, em 6 Mai.1945 (2-4). Na última época ao serviço do FC Porto, 1945-46, ainda participou na festa de despedida do companheiro e amigo Pinga.
• Conceituado Médico Dentista, foi Presidente da Câmara Municipal de Vila Pouca de Aguiar (tomou posse em 1964). O Dr. Francisco Gomes da Costa é reconhecido, na terra natal, como um filho ilustre. O Pavilhão Gimnodesportivo Municipal e uma rua da vila têm o seu nome. Faleceu em 1987.
• Com orgulho envergou Gomes da Costa a camisola azul-e-branca, orgulhoso está o FC Porto de o ter acolhido nas suas fileiras.
Carreira no FC Porto
1936-37 e 1937-38; 1939-40 a 1945-46
Palmarés
1 Campeonato Nacional (1939-40)
1 Campeonato de Portugal (1936-37)
8 Campeonatos do Porto

[Gomes da Costa – Fontes: várias; preciosas informações do Gabinete de Cultura do Município de V. P. Aguiar, a quem se agradece na pessoa da Exma. Sra. Dra. Marilita Fernandes]
  • No próximo post.: Capítulo 5, 1941 a 1950 – O centralismo da capital e o jejum (Parte VI) – Época 1946-47; o último Campeonato do Porto; formação de uma grande equipa de Ciclismo; Campeonato Nacional; Escritura de promessa de compra dos terrenos das Antas.

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