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Modalidades, um ano depois: o bom, o mau e o futuro

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Peço desculpa aos caros leitores pela insistência, mas há um assunto ao qual não posso deixar de voltar. Como muitos já saberão, até porque foi feito eco aqui no BPc, esta semana o Reinaldo Ventura publicou no seu mural no Facebook a informação de que deixou de ser profissional. Muitos interpretaram as suas palavras como uma despedida dos rinques, pelo que o Reinaldo optou por reformulá-las pouco depois, esclarecendo que não deixará de jogar, o que trouxe alívio a muitos dos seus seguidores nessa rede social. Mas o facto do Reinaldo continuar a jogar não pode nem deve aliviar a nossa preocupação com algo de tão sério. Ou estamos à espera que algum jogador deixe de facto a equipa para reconhecermos a gravidade da situação? Espero, muito sinceramente, que não tenhamos que chegar a esse ponto.

A situação complicada das modalidades está à vista há já algum tempo, e há pouco mais de um ano fiz parte do grupo que apresentou na Assembleia-Geral do FC Porto um documento com 36 ideias que a nosso ver poderiam ter efeitos positivos nas modalidades do nosso clube. Tínhamos noção de que os anos que essas equipas passaram fora das Antas tinham criado um fosso entre estas e a maioria da massa adepta, e que deveria ser o clube a trabalhar na eliminação desse fosso, a reestimular o interesse dos adeptos nas modalidades.

Assim, fizemos uma série de sugestões relativas à visibilidade e informação sobre as modalidades no site e outros meios de comunicação do FCP que, devo admitir com satisfação, foram em grande medida aplicadas pelo clube. A aquisição do Porto Canal veio fazer uma enorme diferença, desde logo pela transmissão dos jogos em casa (e até alguns fora), e nota-se de facto uma maior atenção às modalidades no site e, sobretudo, no Facebook. E a carta aos detentores de Dragão Caixa Seat a propor a renovação desta vez foi mesmo enviada.

Também no que toca aos horários dos jogos, a atitude do clube vai de encontro àquilo que sugerimos, com a marcação de partidas em horários próximos, o que nos permite desfrutar de agradáveis tardes e noites desportivas a ver e apoiar o nosso clube. Sobre os bilhetes, as nossas sugestões passavam mais pela oferta de bilhetes e descontos, mas a actual política de preços super-económicos tem tido um efeito semelhante na moldura humana do pavilhão, visivelmente mais interessante do que na época passada.

Apresentámos ainda diversas outras ideias de promoção e valorização das modalidades que até ao momento não foram colocadas em prática; na realidade, talvez sejam de mais difícil implementação. De qualquer forma, é inequívoco que alguma coisa já mudou, pelo que deixo aqui o meu reconhecimento a todos os responsáveis por isso.

No entanto, o problema mais grave continua por resolver. Reeducar a massa adepta para apreciar as modalidades é algo que terá um efeito positivo na tesouraria a longo prazo (não só pela bilheteira, mas porque uma equipa que é seguida por muitos, seja ao vivo ou pela TV, atrai naturalmente melhores patrocínios), mas neste momento o plano tem que ser outro.

O sétimo e último ponto do documento que apresentámos era sobre o financiamento das modalidades. E entendo que algumas das nossas ideias talvez não sejam aplicáveis, pelos mais diversos motivos. Não somos um grupo de economistas ou gestores que estudou cientificamente a questão, apenas um grupo de adeptos bem-intencionados e absolutamente apaixonados pelo seu clube. Algumas das nossas ideias podem ser utópicas, ingénuas, até mesmo estúpidas. Mas já lá dizia o outro que não há ideias estúpidas, que é como quem diz que às vezes de uma ideia aparentemente estúpida até nasce uma boa ideia.

Propusemos, por exemplo, um aumento (eventualmente temporário e/ou facultativo) das quotas em 1 euro, a reverter inteiramente para as modalidades. Sugerimos a aposta na atracção de novos sócios, coisa que na última AG extraordinária o Dr. Angelino Ferreira anunciou estar nos planos para breve – tão breve que a aprovação do aumento de cotas nem sequer podia esperar pela AG ordinária – mas sobre a qual ainda nada se sabe. Outra das nossas ideias era a rentabilização do pavilhão, alugando-o para actividades extra-desportivas, o que felizmente tem vindo a verificar-se cada vez mais.

A uma das nossas propostas foi dada resposta imediata, na própria AG, pela voz do Presidente: a repartição de quotas passou de 80% para a SAD e 20% para o clube a 75%-25%. O que é melhor do que nada, mas eu pergunto: sou sócia do clube ou da SAD? A resposta é óbvia e a conclusão também; se sou sócia do clube, deveria ser o clube a dispor das minhas quotas na totalidade. Entendo que se tenham feito acordos e cedências, nomeadamente aquando da construção do estádio, mas isso não pode implicar que o clube fique refém da SAD. Se é isso que está a acontecer, revejam-se os acordos, repensem-se as cedências.

Pela dimensão que atingiu, pelo número de sócios pagantes, pelo prestígio, pela força da marca, o Futebol Clube do Porto tem que conseguir gerar receitas suficientes para suportar as modalidades amadoras. É preciso fazer mais e melhor na área do marketing, da comunicação, do merchandising – como muito bem dizia o colega Antas numa conversa recente. Eu sei que é fácil estar de fora a mandar bitaites, mas há coisas que são flagrantes. Porque é que não usamos o Porto Canal para divulgar a nossa página no Facebook, uma ferramenta de comunicação fundamental nos dias de hoje e que está com o crescimento praticamente estagnado? Por que é que a oferta da Loja Azul (ou FC Porto Store, como parece que agora se chama) é tão limitada e tão banal, não aproveitando a nossa riquíssima história como fonte de inspiração para o nosso merchandising? O que eu gostava de poder comprar réplicas de camisolas históricas ou do símbolo do muro da Constituição, em vez de ursos de peluche que tanto estão de azul na nossa loja como de vermelho ou verde em outras quaisquer! E por falar em bonecos, onde está o Penta, ou melhor, porque é tão desaproveitada a nossa mascote? Porque é que não temos uma Loja Azul no centro da cidade, para, entre outras coisas, servir os turistas? Porque é que não temos aproveitado o boom de turistas e de prestígio internacional que a nossa cidade tem vindo a conquistar? Acham que basta chamar a tudo Dragon Something para captar o interesse de estrangeiros e parecer modernaço?

Muita coisa pode ser feita. No limite, pode-se pedir aos grandes patrocinadores do futebol, como a Nike, a PT ou a Coca-Cola, que destinem também um pequeno valor, insignificante em proporção ao atribuído ao futebol, às outras modalidades. Qual seria o problema? Seria uma forma de solidariedade da modalidade maior e financeiramente mais bem-sucedida para com as outras. É tudo Futebol Clube do Porto!

Mas se nada disso for possível, se o clube não tiver mesmo forma de suportar todas as modalidades amadoras, então que pelo menos lhes dê autonomia para que possam fazer pela vida. Que não tenha que passar sempre tudo, necessariamente, pela estrutura do clube. Que os dirigentes do andebol, do hóquei e do basket possam ir para o terreno em busca dos seus próprios sponsors, que tenham a liberdade de lutar por um presente e um futuro mais prósperos para as respectivas modalidades. Esse era também um dos pontos do documento apresentado. Quem sabe o mais importante.

Falar destes assuntos em fóruns e blogs e discutir eventuais soluções é sempre útil e interessante, mas sei que devia também levantar a minha voz em sede própria. Na verdade, há já alguns anos tenho por hábito ir às Assembleias-Gerais, mas nunca intervim. No ano passado senti-me representada nas palavras do amigo que subiu ao púlpito para apresentar um documento para cuja redacção também contribuí. Mas quem sabe numa próxima, se achar que se justifica, não venha a usar também da palavra, cumprindo os meus deveres estatutários de "honrar e prestigiar o Clube, contribuindo em todas as circunstâncias para o seu engrandecimento" e "defender e zelar o património do Clube". Porque, sem qualquer dúvida, o ecletismo que tem marcado toda a nossa história é uma parte essencial do nosso património.

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