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No passado Sábado, em Aveiro, tive o prazer de assistir à partida da Supertaça ao lado de dois insignes escribas desta casa: junto a mim estava o Pedro Porto e logo a seguir o Sevilha03. Durante o intervalo, com o Pedro ausente do seu lugar, eu e o Sevilha conversávamos sobre a nossa comum obsessão pelo FC Porto (e os seus contornos nem sempre saudáveis), tendo o Sevilha ocupado o lugar do Pedro para facilitar o diálogo. Ao regressar, ainda durante o intervalo, o Pedro sentou-se no lugar que estava vago – o que fora ocupado pelo Sevilha na primeira parte – e a conversa prosseguiu até os jogadores reentrarem em campo. Nessa altura, ambos se levantaram e trocaram imediatamente de lugar. “Superstições”, disse-me o Sevilha. No final do jogo, já junto ao autocarro, o meu irmão confessou: “Quando vi o Pedro a sentar-se no lugar do Sevilha até bati mal!”.
A realidade é que nunca saberemos o que teria acontecido se o Pedro e o Sevilha não tivessem regressado aos seus lugares originais. Talvez a segunda parte tivesse sido totalmente diferente. Já toda a gente ouviu falar no efeito borboleta: uma pequena diferença nas condições iniciais pode transformar toda uma situação. Não é descabido pensar-se que uma diferença na posição de dois adeptos na bancada possa transformar um jogo de futebol, através de um efeito dominó de motivos que nos seria muito difícil descortinar. Mas a verdade é que, pensando nesses termos, a troca de lugares poderia ter transformado o jogo para pior... ou para melhor. Se o Pedro e o Sevilha tivessem mantido os lugares que assumiram ao intervalo, se calhar teríamos ganho por 3-0. Ou talvez reeditado os 5-0 de 1996. Ou então poderíamos ter ganho por 2-0 na mesma, mas com um golo do Hulk ou do Cebola. Ou com um golo de bicicleta. (Mas ganhar ganhávamos, porque estávamos a jogar muito! ;))
Mas nós, os supersticiosos da bola, não fazemos esse tipo de raciocínio. Não nos baseamos na teoria do caos, na teoria dos múltiplos mundos ou em qualquer outra teoria científica. Sabemos que não faz sentido que o Porto vá jogar bem e ganhar apenas porque estamos sentados no mesmo lugar que ocupámos na primeira parte, porque estamos a usar a mesma camisola que usámos em 2004 ou porque beijámos uma medalha no início do jogo, mas fazemo-lo na mesma. O que nos leva a isso? Somos pessoas racionais todos os dias da semana, mas chega o dia e hora do jogo do Porto e arrumamos a razão na gaveta para acreditarmos que pequenos gestos e decisões nossas terão influência no resultado. E mais: julgamos saber em que sentido é que esses gestos e decisões influenciarão o jogo, pelo que procuramos fazer ou evitar cada um deles consoante o seu efeito positivo ou negativo, criando pequenos rituais que vamos cumprindo semana após semana, de forma perfeitamente consciente, como se não houvesse nada de estranho nisso.
Chamo a atenção para a redacção do parágrafo anterior na primeira pessoa. Sim, também eu me deixo levar por este tipo de crendices, mesmo tendo a perfeita noção de que não fazem qualquer sentido. “Mas é melhor não arriscar”, costumo pensar. Quando era miúda, se um jogo importante estivesse a correr mal ao Porto, rezava. Pedia a deus que ajudasse o Porto a marcar e a ganhar. Até que ganhei juízo suficiente para perceber que se todos os adeptos de futebol rezassem por golos e vitórias, o destinatário de tanta oração não saberia para que lado se virar. Como dizia o célebre jornalista e treinador brasileiro João Saldanha, “se macumba ganhasse jogo, o campeonato baiano terminava empatado”. E além disso, se efectivamente orações ganhassem jogos, caso fosse dada prioridade aos clubes que tivessem mais gente a rezar por eles, a coisa corria-nos mal. E por isso deixei, ainda em tenra idade, de rezar pelo futebol, embora tenha mantido outras (e "inventado" novas) superstições. Já bem mais tarde, na final da Taça Intercontinental em Yokohama, surpreendi-me ao dar por mim absolutamente indignada por ver os jogadores do Once Caldas de joelhos a rezar durante os penalties. Olhava para eles e pensava: “se realmente existir uma entidade omnipotente e com pachorra para influenciar resultados de futebol, por que raio vos há-de ajudar a vocês, que não fizeram nada o jogo todo para merecer a vitória, e não a nós, que demos o litro, massacrámos os postes e ainda tivemos dois golos mal anulados?” É que fiquei genuinamente ofendida, numa reacção interior obviamente exacerbada pelo meu estratosférico estado de nervos na altura. Mas sim, fiquei ofendida por eles estarem a pedir a ajuda de um ser em quem eu nem sequer acredito. Mais racional é impossível ;) Mas que melhor lugar do que um estádio de futebol para deixar por momentos a lógica à porta?
Por mera coincidência – mesmo! - hoje é Sexta-feira 13. Amanhã começa um novo campeonato e com ele todas as nossas pequenas superstições que, sabe-se lá, podem ter contribuído para fazer do FC Porto o gigante que é hoje. Continuemos, então! É melhor não arriscar...
PS – Escusado será dizer, mas digo-o na mesma pelo sim pelo não, que espero não ter ofendido as crenças e/ou superstições de quem quer que seja nesta minha pequena reflexão sobre o tema. E, já agora, peço aos Dragões supersticiosos que partilhem nos comentários de que formas altamente criativas e provavelmente irracionais têm vindo a empurrar o nosso clube para a vitória ;)
A realidade é que nunca saberemos o que teria acontecido se o Pedro e o Sevilha não tivessem regressado aos seus lugares originais. Talvez a segunda parte tivesse sido totalmente diferente. Já toda a gente ouviu falar no efeito borboleta: uma pequena diferença nas condições iniciais pode transformar toda uma situação. Não é descabido pensar-se que uma diferença na posição de dois adeptos na bancada possa transformar um jogo de futebol, através de um efeito dominó de motivos que nos seria muito difícil descortinar. Mas a verdade é que, pensando nesses termos, a troca de lugares poderia ter transformado o jogo para pior... ou para melhor. Se o Pedro e o Sevilha tivessem mantido os lugares que assumiram ao intervalo, se calhar teríamos ganho por 3-0. Ou talvez reeditado os 5-0 de 1996. Ou então poderíamos ter ganho por 2-0 na mesma, mas com um golo do Hulk ou do Cebola. Ou com um golo de bicicleta. (Mas ganhar ganhávamos, porque estávamos a jogar muito! ;))
Mas nós, os supersticiosos da bola, não fazemos esse tipo de raciocínio. Não nos baseamos na teoria do caos, na teoria dos múltiplos mundos ou em qualquer outra teoria científica. Sabemos que não faz sentido que o Porto vá jogar bem e ganhar apenas porque estamos sentados no mesmo lugar que ocupámos na primeira parte, porque estamos a usar a mesma camisola que usámos em 2004 ou porque beijámos uma medalha no início do jogo, mas fazemo-lo na mesma. O que nos leva a isso? Somos pessoas racionais todos os dias da semana, mas chega o dia e hora do jogo do Porto e arrumamos a razão na gaveta para acreditarmos que pequenos gestos e decisões nossas terão influência no resultado. E mais: julgamos saber em que sentido é que esses gestos e decisões influenciarão o jogo, pelo que procuramos fazer ou evitar cada um deles consoante o seu efeito positivo ou negativo, criando pequenos rituais que vamos cumprindo semana após semana, de forma perfeitamente consciente, como se não houvesse nada de estranho nisso.
Chamo a atenção para a redacção do parágrafo anterior na primeira pessoa. Sim, também eu me deixo levar por este tipo de crendices, mesmo tendo a perfeita noção de que não fazem qualquer sentido. “Mas é melhor não arriscar”, costumo pensar. Quando era miúda, se um jogo importante estivesse a correr mal ao Porto, rezava. Pedia a deus que ajudasse o Porto a marcar e a ganhar. Até que ganhei juízo suficiente para perceber que se todos os adeptos de futebol rezassem por golos e vitórias, o destinatário de tanta oração não saberia para que lado se virar. Como dizia o célebre jornalista e treinador brasileiro João Saldanha, “se macumba ganhasse jogo, o campeonato baiano terminava empatado”. E além disso, se efectivamente orações ganhassem jogos, caso fosse dada prioridade aos clubes que tivessem mais gente a rezar por eles, a coisa corria-nos mal. E por isso deixei, ainda em tenra idade, de rezar pelo futebol, embora tenha mantido outras (e "inventado" novas) superstições. Já bem mais tarde, na final da Taça Intercontinental em Yokohama, surpreendi-me ao dar por mim absolutamente indignada por ver os jogadores do Once Caldas de joelhos a rezar durante os penalties. Olhava para eles e pensava: “se realmente existir uma entidade omnipotente e com pachorra para influenciar resultados de futebol, por que raio vos há-de ajudar a vocês, que não fizeram nada o jogo todo para merecer a vitória, e não a nós, que demos o litro, massacrámos os postes e ainda tivemos dois golos mal anulados?” É que fiquei genuinamente ofendida, numa reacção interior obviamente exacerbada pelo meu estratosférico estado de nervos na altura. Mas sim, fiquei ofendida por eles estarem a pedir a ajuda de um ser em quem eu nem sequer acredito. Mais racional é impossível ;) Mas que melhor lugar do que um estádio de futebol para deixar por momentos a lógica à porta?
Por mera coincidência – mesmo! - hoje é Sexta-feira 13. Amanhã começa um novo campeonato e com ele todas as nossas pequenas superstições que, sabe-se lá, podem ter contribuído para fazer do FC Porto o gigante que é hoje. Continuemos, então! É melhor não arriscar...
PS – Escusado será dizer, mas digo-o na mesma pelo sim pelo não, que espero não ter ofendido as crenças e/ou superstições de quem quer que seja nesta minha pequena reflexão sobre o tema. E, já agora, peço aos Dragões supersticiosos que partilhem nos comentários de que formas altamente criativas e provavelmente irracionais têm vindo a empurrar o nosso clube para a vitória ;)