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Cedo demais para sonhar?

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Lembro-me de uma altura, que até nem foi assim há tanto tempo, em que o FC Porto ia às competições europeias para "chegar o mais longe possível", sem reais ambições de ganhar. Cair na fase de grupos era o único resultado negativo; passada essa etapa, o que viesse era lucro e o que tínhamos por quase certo era que, mais eliminatória menos eliminatória, acabaríamos por voltar para casa, e de cabeça erguida. Falo da década de 90. Sou de uma geração de portistas que se lembra mal – ou não se lembra de todo – de 87 e que cresceu a ouvir falar dessa época extraordinária como um "one-off", uma coisa maravilhosa que aconteceu e que muito dificilmente voltaria a acontecer, e para a qual 84 foi como que um "treino". Com essa ideia semi-consciente de que 87 era praticamente irrepetível e a evidência da existência de clubes financeiramente muito mais bem apetrechados, interiorizámos a noção de que o nosso presente e futuro próximo passavam por dominar a nível interno e ter boas prestações na Europa, nada mais do que isso.

Recordo perfeitamente o dia e hora em que, para mim, essa ideia se transformou: 10 de Abril de 2003, pelas 20 horas. Início do Porto x Lazio. E a verdade é que este "pré-conceito" já estava tão arreigado, que o facto de termos chegado à meia-final da Taça UEFA, por si só, não o abalou. Já tínhamos chegado à meia-final da Liga dos Campeões nove anos antes, e o sentimento era semelhante. O momento em que tudo mudou foi quando vi a mensagem do Colectivo 95 nessa partida: "Não acordar, deixem-nos sonhar". Quem não se lembra? Nessa altura, acordei para a realidade de que tínhamos um título europeu a 270 minutos (que acabaram por ser 300) e que podíamos conquistá-lo. Nessa altura assumi o direito a sonhar. E sonhei. E a realidade espelhou o meu sonho, resultando numa época fantástica que me coloca um sorriso nos lábios só de pensar nela.

A caminhada rumo à Taça UEFA 2003 apanhou-me de surpresa, e sei que a muitos portistas também, sobretudo àqueles que, nascidos maioritariamente nos anos 80, correspondem à descrição no início do texto. E se é verdade que Gelsenkirchen soube maravilhosamente – e se soube! – posso afirmar convictamente que Sevilha soube pelo menos igualmente bem. Embora menos exigente, menos relevante, menos prestigiante, a Taça UEFA teve aquele sabor especial das coisas boas que nos surgem na vida quando menos esperamos. E nem é preciso recordar as três épocas anteriores para justificar isso.

Depois da UEFA veio a Liga dos Campeões. Não posso dizer que estava "à espera", caso contrário teria feito fortuna num bookie qualquer, mas posso dizer que acreditava. Porque 2003 mudou a minha atitude perante as competições europeias: passei a acreditar. Mas acreditar a sério. Não é dizer que acredito, só como forma de incentivo. É acreditar que temos uma real possibilidade de ganhar – e não apenas teórica.

Este ano, acredito que essa possibilidade é maior. Não podemos fingir que não reparamos que somos uma equipa com lugar quase cativo na Liga dos Campeões a disputar a Liga Europa. E não podemos fingir que isso não é uma responsabilidade. Sim, há outras equipas teoricamente fortes, nomeadamente o Liverpool e o Sevilha, que pode, daqui a uns meses, já não ser o Sevilha que o Braga estraçalhou. Mas ainda assim acho que é legítimo acreditarmos um bocadinho mais esta época do que acreditámos nas anteriores.

Confesso que no final da época passada, ao confirmar-se que estávamos arredados da Liga dos Campeões, a primeira coisa que me ocorreu foi: "vamos à Liga Europa para ganhar". Foi instintivo, não foi reflectido. Porque é esse o meu estado de espírito enquanto adepta do Porto, desde 2003. Esta confiança, que é, desde que me lembro, o pão nosso de cada dia de qualquer portista quando se fala de competições domésticas, irradiou, pelo menos no meu caso, para as competições internacionais. Não posso deixar de interpretar isso como um reflexo do nosso crescimento, e sorrio novamente.

Confiança é bom, excesso de confiança é mau – estamos todos de acordo. Traçar a fronteira é que já é mais complicado. Este ano disputamos uma competição mais acessível, estamos a exibir um futebol interessante para início de época e passámos com classe o primeiro teste, embora tenhamos doseado mal a descompressão na segunda mão. Por outro lado, vimos de uma época negativa, temos adversários razoáveis e poucos discordarão que a prioridade é o campeonato. E até há quem ache que isto de antecipar em pensamento as coisas boas dá azar. Mas não resisto a perguntar: será cedo demais para sonhar?

PS – Na senda do meu post anterior, claro está que, se não vencermos a Liga Europa esta época, nunca mais me atreverei a manifestar tanta confiança publicamente e por escrito. Ficam todos como minhas testemunhas :)

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