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Channel: BiBó PoRtO, carago!!
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O amor à bola nos tempos da crise

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http://bibo-porto-carago.blogspot.pt/


Começou como uma curiosidade, agora é um hábito e, se se mantiver, não demorará a virar tradição. No dia 1, depois de acordar bem tarde e devorar uma almoçarada de restos da véspera, lá seguimos para o Dragão para ver o treino do Campeão. Este ano até São Pedro ajudou, estava um solzinho simpático, um céu da nossa cor, e o pobo não faltou à chamada. Éramos uns 12 ou 13 mil - número semelhante à média de assistências do Braga e do Guimarães esta época e inferior apenas à dos três grandes. Bancada Poente e Superior Norte quase cheias de Portistas, desde meninas que suspiram pelo James (quando tinha a idade delas, também eu suspirava por um estrangeiro de pé esquerdo de ouro, mas este vinha do leste e deu-me, anos mais tarde, uma desilusão indescritível - embora saiba de fonte segura que continuou e continua Portista) a idosos, passando por grupos de amigos, casais ou famílias inteiras, com crianças ainda pequenas.

Reparei em muitas pessoas pouco familiarizadas com o estádio, possivelmente por lhes ser financeiramente difícil comprar bilhetes. Estes momentos são importantes não apenas pela possibilidade de vermos os nossos ídolos num contexto mais descontraído, mas também pela oportunidade proporcionada a essas pessoas, que são uma parte fundamental do FC Porto. E que são cada vez mais. A cada dia há mais um caso de um amigo, um familiar, um amigo de um amigo que perdeu o emprego, que teve de fechar o seu pequeno negócio ou que, depois de centenas de currículos enviados sem resposta, ficou sem subsídio. Ou que mantém o emprego, mas com os cortes e o aumento de impostos tem de começar a ter mais cuidado com as despesas. A certa altura, a quota de sócio começa a ficar desactualizada. Quem tem lugar anual precisa da quota em dia para entrar no estádio, mas quem não tem vai deixando passar: o dinheiro mal chega para o estritamente necessário. Num piscar de olhos, passaram 6 meses. E 60 euros é muita coisa.

Segundo os nossos estatutos, um filiado pode solicitar a suspensão do pagamento da quota no caso de estar desempregado (ou a prestar serviço militar obrigatório, ausente do país ou com doença que o impossibilite de angariar fundos). Durante esse tempo, não goza dos mesmos direitos que os outros associados (preços especiais, participação em assembleias-gerais, etc.), mas mantém o direito a conservar a condição de sócio, não sendo excluído caso haja uma recontagem. Desconheço como funciona na prática esta suspensão e não sei de ninguém que a tenha pedido, mas em teoria existe e acredito que possa ser útil a muita gente nesta altura, sobretudo a quem já leva muitos anos de casa e certamente faz questão de manter a sua antiguidade. Se alguém sabe mais sobre esta possibilidade, aproveito para pedir que o partilhe na caixa de comentários.

Quando vamos ao estádio não queremos pensar no estado do país, antes pelo contrário; queremos esquecê-lo por um momento e concentrar-nos em algo que nos faz felizes, na companhia de pessoas com quem nos sentimos bem. Mas isso não significa que o clube possa ou deva ignorar aquilo que se passa nas nossas vidas do torniquete para fora. O clube sabe que a nossa vida não está fácil. E sabe que, embora muitos de nós coloquemos o FCP bem perto do topo das nossas prioridades e façamos grandes sacrifícios para continuarmos a estar presentes, as coisas estão cada vez mais difíceis. Sabendo tudo isso, e sabendo que é uma força social capaz de ter um impacto real no estado de espírito e na motivação das pessoas, o nosso clube devia dar o exemplo e baixar significativamente os preços dos bilhetes. Significativamente, mesmo. Como quem diz: venham. Vamos lotar o Dragão, cantar pela nossa equipa e ser felizes por hora e meia. E encher os pulmões do ar frio da noite tripeira, que nos revigora e encoraja para a luta que é cada dia.

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