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É com pena que digo que há muito Portista que não merece o clube que tem. E, em muitos casos, não merece a época em que nasceu e cresceu. Vitória atrás de vitória, título atrás de título, festa atrás de festa. Orgulho a transbordar por todos os poros. Disse e repito: somos os adeptos mais privilegiados do mundo. Mas tão boa fortuna deixou-nos mal habituados. É cliché, mas é verdade. Começámos a tomar como garantido aquilo que nunca o foi - pelo contrário, custou muito esforço e muita perseverança, mesmo que por vezes nos parecesse fácil. Nunca foi fácil.
E nós, que fomos dando o nosso apoio pelo caminho, sentimo-nos responsáveis por parte do êxito. "Eu ajudei, eu contribuí, fiz o meu papel e por isso esta vitória também é minha". Nas horas mais difíceis, porém, as coisas mudam de figura, e há muito quem se chegue para o canto e passe à crítica na terceira pessoa, porque os jogadores isto, o treinador aquilo, o Pinto da Costa está acabado. Sem parar para pensar que, se o seu apoio contribui para as vitórias, talvez a ausência desse apoio também contribua para as derrotas. Os seus assobios, os seus insultos, a sua crítica fácil e muitas vezes injusta, o seu discurso agressivo contra aqueles que deviam defender dos tantos ataques vindos de fora. Tudo isso desestabiliza, desune, desmotiva e tem o seu peso no desempenho de um grupo de pessoas, simples humanos como nós, que carregam às costas os sonhos de milhões. Não é preciso ser psicólogo. E se tanto gostamos de ver "a casa a arder" quando as coisas correm mal aos nossos rivais, o que leva alguns de nós a, nos momentos de fragilidade da nossa equipa, pegar nos fósforos em vez de no extintor?
Felizmente, acredito que este tipo de adeptos, embora talvez mais interventivos e exuberantes, sejam uma minoria. E a sua defesa costuma ser sempre a mesma: sou exigente! Pois, somos todos. Nenhum de nós gosta de épocas como esta, nem nenhum de nós se contenta com a mediania. E não contesto o direito à crítica, nem mesmo a sua importância, quando justa e relevante. A diferença está na noção de que a glória que exigimos não é um direito, mas uma conquista. Não é algo com que possamos contar como certo e depois amuar se não nos cai no colo. Não. É algo pelo qual é preciso lutar muito, na maioria das vezes contra tudo e contra todos. Que implica fileiras cerradas, crença, empenho, capacidade, inteligência. E se isso da exigência é a sério, exijamos o melhor de todos nós. Todos!
O nosso clube passou por momentos muito difíceis ao longo dos seus quase 120 anos de existência. Leiam as histórias ou, melhor ainda, ouçam-nas de quem as viveu. Perguntem a qualquer Portista - daqueles com P bem maiúsculo, como conheço vários - nascido dos anos 60 para trás o que era ser do nosso clube naquela altura. Quantos títulos europeus festejaram, quantos Pentas, quantos Tetras ou Tris. Até mesmo quantos títulos, em geral. E perguntem-lhes se resistiram. Ou melhor, nem é preciso fazer esta última pergunta. Olhem à vossa volta. É graças à sua resiliência e dedicação inabaláveis que hoje estamos onde estamos e somos quem somos. Ser Porto é isso. E essa identidade será sempre o maior dos nossos trunfos.
Se ainda vamos ser campeões esta época, não sei. Mas, no pouco que me cabe, acreditarei e lutarei até ao último segundo. E no dia a seguir a esse, independentemente de tudo.