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Channel: BiBó PoRtO, carago!!
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Vítor Vitória

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http://bibo-porto-carago.blogspot.com/

Há uns aninhos largos, ainda o BiBó PoRtO seria uma vaga ideia nos neurónios do nosso amigo Blue Boy, ou talvez nem isso sequer, surgiu um blog com o título deste post: Vitor Vitória. O seu autor, que não conheço, chamava-se, um pouco ironicamente, Ricardo. E assumiu a cruzada de defender o Vítor Baía no período alto do anti-Baiísmo em Portugal. Um pouco antes, durante e um pouco depois do Euro 2004. O blog ainda está online, em Vitor Vitória, mas os arquivos não estão acessíveis.

Lembro-me de seguir avidamente esse blog, sobretudo na fase mais quente da perseguição de que o Baía foi alvo por parte da comunicação social lampiónica. Cada insulto ou crítica injusta ao Baía despertava a minha indignação, e ler as sempre inteligentes e certeiras respostas do Ricardo em defesa do herói era um bálsamo. Porque para mim, o que era dirigido ao Baía, era como se fosse dirigido a um amigo próximo ou a um familiar.

O Vítor Baía foi um dos meus grandes ídolos da infância e adolescência, e continuou a sê-lo na idade adulta. Como dizem os anglófonos, “I look up to him”, que é um admirar, mas subtilmente diferente. É um “olhar para cima”, um admirar e respeitar alguém que está no topo de alguma coisa. E o Baía estava sem dúvida no topo. As origens da minha admiração pelo melhor guarda-redes português de sempre perdem-se nas minhas recordações de criança. Não me lembro como começou, só me lembro dela estar lá. O Baía era o Baía: um nome de que se falava pela casa como se fizesse parte da nossa vida quotidiana. E fazia!

Com ele na baliza do Porto, era como se nada temêssemos. Qualidade a toda a prova, classe incomparável, garra inata. E simplicidade. Nunca fazia uma defesa para a fotografia, embora fosse buscar bolas inacreditáveis. Sofreu a sua quota de frangos, alguns deles memoráveis, mas houve quem dissesse – creio que o Valdano – que o Baía “até a sofrer golos tem classe”.

Houve lágrimas quando saiu para a Catalunha, como o guarda-redes mais caro de sempre até à altura, e mais lágrimas quando voltou, de cachecol ao pescoço, com um sorriso rasgado por “regressar a casa”, como o proverbial bom filho. Sempre que um jogador de grande qualidade sai do Porto, e sobretudo se for um jogador criado no clube, há sempre uma vaga esperança de que volte a jogar de Dragão ao peito. Mas quantos efectivamente voltam, e numa altura em que ainda têm muito para dar? É claro que as circunstâncias da sua carreira facilitaram a decisão, mas a verdade é que o Baía saiu bem do Porto e voltou melhor, e isso só reforçou o meu respeito por ele. Tal como a sua classe fora dos relvados. Contrariando o (frágil) estereótipo do jogador de futebol cabeça oca, o Baía era inteligente, culto, eloquente. Um senhor.

O período que se seguiu ao seu regresso foi mágico para nós e para ele, que assumiu um estatuto verdadeiramente mítico no desporto português. Não havia aspirante a guarda-redes que não gritasse “Baía!!” ao fazer uma defesa. E a quantidade de jogadores de clubes grandes e pequenos, por todo o país, em todos os escalões etários e mesmo em outras modalidades desportivas, que passaram a envergar orgulhosamente o número 99? O Baía era o maior, em todos os sentidos. Nem Scolari lhe conseguiu tirar isso.

Penduradas as chuteiras, assumiu um cargo directivo no FCP, mas fez questão de se preparar académica e profissionalmente para o desafio, ao contrário daquilo que é comum. Afastou-se recentemente do clube, tudo indica que por não lhe terem sido atribuídas as funções que ambicionava, deixando-me triste por vê-lo partir mas convicta de que irá regressar. Desde então, contudo, as relações do Baía com o Porto começaram a mostrar-se menos amistosas, ou pelo menos foi isso que veio chegando aos nossos ouvidos através do intermediário do costume: a comunicação social. Comunicação social essa que faz pouco caso do rigor, exactidão e honestidade consagrados no seu código deontológico e aproveita toda e qualquer oportunidade para descontextualizar e deturpar a informação em nome de alianças de bastidores ou preferências pessoais de directores. Nós Portistas sabemos bem que assim é.

Ontem, quando li as supostas “críticas ao seu antigo clube” por parte do Baía, entendi-as imediatamente. Não era preciso desmentido nenhum: é óbvio que, quando disse que nos lampiões ou nos lagartos teria tido outra projecção, Baía estava a referir-se à comunicação social. Se o jogador com mais títulos na história do futebol tivesse jogado de vermelho ou de verde, seria hoje uma espécie de Eusébio, com coroa, trono, ceptro e séquito de súbditos. Não tenho a mais pequena dúvida. A própria comunicação social percebeu as palavras do Baía, mas não resistiu a atacar o FC Porto, semeando pelo caminho a dúvida sobre “um dos seus” entre a comunidade Portista. O que, no fundo, só vem provar o que o Baía disse sobre a própria comunicação social.

No meio de tudo isto, só me admira que o Vítor Baía, pessoa inteligente e bem formada, depois de mais de 20 anos de experiência, tantas vezes azeda, com a comunicação social, ainda se coloque a jeito para cair neste tipo de esparrela. Não saberá ele que, ao falar do FC Porto, tem que avaliar o que diz de todos os ângulos, de trás para a frente e de baixo para cima, certificando-se de que não há descontextualização ou má interpretação possível? É que se houver, já se sabe, vão fazê-la. Vale a pena continuar, qual Iordanov, a insistir no jogo de despedida, sabendo que tudo o que saia da sua boca pode e será arremessado contra o clube que ama? E que isso acabará por virar os adeptos do clube contra ele? O muito que ainda espero que o Baía dê ao clube exige mais precaução da parte dele e menos precipitação da nossa. Não deixemos que os intermediários dêem cabo de uma relação tão bonita!


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