Málaga CF 2-0 FC PortoUEFA Champions League, oitavos-de-final, segunda mão
13 de Março de 2013.
Estádio La Rosaleda, em Málaga.Árbitro: Nicola Rizzoli (Itália).
Assistentes: Andrea Stefani e Renato Faverani.
Quarto árbitro: Riccardo di Fiore.
Assistentes adicionais: Luca Banti e Paolo Silvio Mazzoleni.
MÁLAGA CF: Willy; Jesús Gámez, Demichelis, Weligton (cap.) e Antunes; Iturra, Toulalan e Júlio Baptista; Joaquín, Saviola e Isco.
Substituições: Júlio Baptista por Santa Cruz (74m), Saviola por Piazón (78m) e Joaquín por Ignacio Camacho (89m).
Não utilizados: Kameni, Lugano, Seba e Sergio Sánchez.
Treinador: Manuel Pellegrini.
FC PORTO: Helton; Danilo, Otamendi, Mangala e Alex Sandro; Fernando, João Moutinho e Lucho (cap.); Varela, Jackson Martínez e Defour.
Substituições: João Moutinho por James Rodríguez (intervalo), Varela por Maicon (58m) e Alex Sandro por Atsu (70m).
Não utilizados: Fabiano, Castro, Izmaylov e Liedson.
Treinador: Vítor Pereira.
Ao intervalo: 1-0.
Marcadores: Isco (43m) e Santa Cruz (77m).
Cartões amarelos: Otamendi (17m), Defour (24m e 49), Demichelis (28m), Alex Sandro (30m), Jesús Gámez (33m), Toulalan (64m) e Mangala (83m).
Cartões vermelhos: Defour (49m, por acumulação de amarelos).
Durante muitos anos queixamo-nos que os nossos treinadores mudavam de estratégia nos jogos europeus, adoptando quase sempre uma postura defensiva, “inventando” como se diz na gíria, com receio dos adversários. Lembramo-nos, certamente, apenas por exemplo, da entrada de Costa no onze que António Oliveira apresentou em Old Trafford. Ou de Stepanov e Nuno André Coelho, pela mão de Jesualdo Ferreira. O resultado era quase sempre o mesmo: goleada sofrida, lição recebida como se de um castigo se tratasse e regresso a casa de cabeça baixa e de mãos a abanar.
Vítor Pereira, pelo contrário, não encaixa nesse paradigma. Entra no Mónaco frente ao todo-poderoso Barcelona a pressionar em cima, sem medo, obrigando os catalães a – coisa nunca vista – despachar bolas para o Príncipe Alberto. Em casa do maior rival nacional a mesma postura: mandona, sem deixar jogar, a dominar os jogos do princípio ao fim, em posse de bola, com estilo, mostrando quem manda.
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Mas nem tanto ao mar nem tanto à terra, dizem os sábios. E hoje, em La Rosaleda, Vítor Pereira terá projectado os piores 45 minutos da sua (ainda curta) carreira. E não tenho medo de o apontar como o principal responsável pela eliminação do FC Porto às mãos deste Málaga. Logo eu, que assumo sem problemas ser um apreciador das qualidades do Prof. Vítor Pereira e que já muitas vezes tive oportunidade de o elogiar nestas crónicas. Aliás, com ele ao leme, raros foram os jogos em que o FC Porto errou na abordagem táctica.
Mas hoje foi um desses jogos. E não podia ter sido. Não devia. Tendo em conta a diferença - continuo a acreditar nisso - abissal entre as duas equipas. De facto, não se compreende a necessidade do FC Porto entrar no La Rosaleda tão de peito feito, a querer não apenas controlar mas também dominar o desafio. Esperava, confesso, um jogo semelhante a de Kiev, com linhas recuadas, pressão na linha de meio-campo e uma deliberada tentativa de ter o jogo na mão sem necessidade de ter a bola no pé. Mas a estratégia, desta vez, não passou por aí. Os primeiros 20 minutos resultaram, é verdade, mas a primeira reacção malaguenha desbaratou por completo a organização defensiva azul e branca.
A dada altura, atendendo às entradas agressivas e fora de tempo por parte dos jogadores portistas (Alex, Défour e Moutinho à cabeça), questionei-me do porquê de tamanha ânsia e vontade de esmagar e tolher o adversário. Porque seria que os jogadores portistas tanto quereriam a bola para si se estavam em vantagem na eliminatória? Porque é que a equipa surgia tantas e tantas vezes descompensada? Porque é que o Málaga, a perder a eliminatória, conseguia criar situações de contra-ataque? Porque é que jogávamos com a defesa subida? Que suicídio táctico seria este?
Assistia, então, entre o choque e a surpresa, às constantes e atabalhoadas subidas de Alex Sandro, a maioria das vezes sem critério e sem sentido, deixando Joaquin solto e livre nas suas costas. Do lado contrário, já sem choque e sem surpresa, não vislumbrava subidas, mas também o que via não me agradava, muito pelo contrário. Danilo falhava passes clamorosos e era batido sem apelo nem agravo por Isco. Varela bem tentava dar ordem e rigor ao flanco direito, mas faltava-lhe o que já vem sendo hábito: pernas.
Os centrais, atentos e empenhados, iam aguentando as investidas de Saviola e Júlio César. Mas tudo se tornava complicado atendendo que apenas tinham Fernando como parceiro de armas. Estranhamente, Moutinho, Défour e Lucho pisavam terrenos mais adiantados, pressionando a todo o vapor (?) os centrais e laterais espanhóis. Porquê ?!
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O que depois se passou não foi obra do acaso. Nem azar. Foi consequência da estratégia assumida. Consequência, no fundo, do facto de Vítor Pereira ter sido fiel ao seus princípios e à sua filosofia. Esquecendo-se – pequeno pormenor - que estava a disputar um jogo da Champions League. O
glamour e o
naif não combinam com esta competição. O Málaga até avisou primeiro, por Saviola, em lance mal invalidado pelo árbitro, visto que Helton não sofre falta. O golo de Isco, na melhor altura para os andaluzes, afigurou-se como natural e óbvio, embora o guardião brasileiro pudesse, a meu ver, ter feito mais, o que já não vem sendo novidade para nenhum portista neste tipo de jogos europeus. A expulsão de Défour, no início da segunda parte, a vir socorrer mais uma brecha aberta pelas irritantes subidas de Alex Sandro, sentenciou as aspirações dos Dragões. Nesse momento, os portistas racionais viram que a eliminatória estava terminada. Os mais emocionais, como eu, continuaram agarrados a uma réstia de esperança, à espera de mais um
momento Old Trafford. Que, como se sabe, só acontece quando se merece muito.
No fundo, sendo radical, julgo que faltou humildade ao treinador portista para mentalizar os seus jogadores de que este era um jogo para sofrer. Os campeões fazem-se também dessa capacidade de sofrimento, dessa humildade, dessa sabedoria em se deixar ser dominado, mas nunca domado. Ser fiel a uma filosofia sem olhar à fera que temos pela frente não costuma resultar. Um toureiro certamente não se dispõe a matar um leão munido de uma capa vermelha e uma espada. Nisso, José Mourinho é mestre, por exemplo. Fazendo uso da sua
realpolitik, não tem vergonha de ir jogar a casa de rivais munido de trincos e médios de contenção, reinventando o
catennaccio. Há alturas em que temos que tomar uma decisão: ou somos fiéis à filosofia ou optamos por ganhar o jogo.
Não que este Málaga seja um felino de alto quilate. Nada disso. Demichelis, Joaquin, Saviola, Santa Cruz, Toulalan e Júlio Baptista já viveram os melhores tempos das suas carreiras há alguns quilómetros atrás. Isco, certamente, ainda terá os melhores quilómetros por percorrer. Fica a ideia, pouco gloriosa, de que foi o FC Porto a perder esta eliminatória e não o Málaga que a ganhá-la.
Vítor Pereira bem pode apontar o dedo às recentes lesões de Moutinho, Défour e Mangala. Pode também argumentar que James demora quase um mês a recuperar de uma lesão (?!). Pode dizer que o jogo de Málaga veio na pior altura. Pode acusar o árbitro de demasiada rigidez na amostragem das cartolinas. Pode identificar que Jackson está cansadíssimo porque não tem nem nunca teve um substituto à altura. Serão factos reais e verdadeiros, é certo, mas não apagam o caos e obscuridade tácticos em que a equipa mergulhou a meio da primeira parte.
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Curiosamente ou não, o FC Porto só se viria a encontrar na partida com a saída de Alex e a entrada de Maicon, que estabilizou e assentou a equipa. Certamente que hoje, olhando para os nossos laterais, há muitos portistas a sonhar com a fiabilidade relojoeira de um Sapunaru ou de um Nuno Valente. E a verdade é que, com as entradas de Maicon e Atsu, o treinador portista conseguiu espevitar a equipa e colocar os adeptos malaguenhos a suspirar pelos 90 minutos, tal foi o perigo causado pelos cruzamentos nos instantes finais. Mas aí já se jogava mais com o coração do que com a cabeça.
Num dia histórico para o Mundo, no dia da eleição do Papa Francisco, no habemus Porto. É pena, pois esta equipa tem qualidade para mais. Mas no meio das tristezas e das amarguras, surge sempre a esperança. Hoje, houve um Homem, entre todos, que merecia muito, mas mesmo muito mais: Lucho Gonzalez. É ele quem nos vai levar, tenho a certeza, ao TRI.
Habemus Capitan!Rodrigo de Almada Martins
DECLARAÇÕESVítor PereiraEm conferência de imprensa após a derrota no terreno do Málaga CF, Vítor Pereira fez o retrato de um encontro em que os Dragões foram obrigados a “correr atrás das incidências do jogo”. A equipa sai triste, mas o treinador garante que estará preparada para conquistar os três pontos no encontro com o Marítimo, no domingo.
“Sabíamos que íamos ter um ambiente complicado e o Málaga ia ser mais pressionante do que no Dragão. Durante 25 a 30 vimos duas equipas agressivas. Nós tivemos critério na saída de bola e fomos fazendo o nosso jogo, contra uma equipa que quis também pressionar alto. Foi até aí um jogo equilibrado, com um critério muito apertado da arbitragem. A transição ofensiva do Málaga é perigosa e é preciso reagir com agressividade e um comportamento forte a esses momentos. Os cartões amarelos foram-nos condicionando e permitiram que o Málaga saísse uma ou outra vez com perigo. Depois, o João Moutinho foi começando a sentir dificuldades físicas relacionadas com a lesão que teve. Foi um período que nos penalizou e deixámos de ter essa dinâmica na saída de bola. Perdemos muitas bolas e o Málaga continuou agressivo e conseguiu fazer um golo”, resumiu Vítor Pereira.
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O treinador prosseguiu com a sua visão da partida, recordando a saída de Moutinho por lesão, ao intervalo, e a expulsão de Defour: “Procurámos organizar-nos defensivamente com um a menos e tentar sair com perigo nas transições, para fazer um golo e continuar em prova. O James entrou bem e deu-nos algum critério em termos de posse e decisão. A entrada do Atsu também pretendia dar-nos um bocado mais de velocidade. Não permitimos grandes oportunidades na segunda parte mas, de bola parada, o Málaga conseguiu chegar ao segundo golo e não foi possível recuperar. Saímos da Liga dos Campeões com a ideia de que em casa fomos muito superiores e aqui corremos quase sempre atrás das incidências do jogo, o que nunca nos permitiu agir sobre ele ou imprimir a dinâmica que queríamos”.
Os portistas ainda tentaram “com alma” chegar ao golo que valeria a classificação para os quartos-de-final da Liga mdos Campeões, mas tal não foi possível. “Estaria a mentir se não admitisse que não estávamos à espera de sair da Liga dos Campeões desta forma”, afirmou, sublinhando ainda algumas críticas à arbitragem. “Em casa tivemos um bom jogo posicional e agressividade no momento de perda de bola. Aqui esse momento foi constantemente penalizado pelo critério do árbitro, que foi amarelando os nossos jogadores. Com um jogador a menos, face a um adversário pressionante, em sua casa e num ambiente favorável, era natural que passássemos por algumas dificuldades”, completou.
Vítor Pereira recordou o domínio portista na primeira mão, em que o triunfo por 1-0 acabou por se revelar curto face ao que sucedeu em Espanha: “Saímos da Champions com um sabor amargo, pois fomos muito superiores em casa ao Málaga. A diferença entre as duas equipas no Dragão foi bem mais evidente do que aqui, mas eles conseguiram concretizar dois golos. Tínhamos as nossas aspirações, mas agora temos de nos focar no campeonato para ir à Madeira buscar os três pontos”.
RESUMO DO JOGO